O Declínio do Cinema King
Há não muito tempo atrás, nos idos de 98 ou 99, o cinema King era o epicentro da cinéfilia lisboeta. Um lugar onde passava apenas quem estivesse realmente interessado nos filmes, com o acréscimo de, para além da muito interessante livraria da Assírio e Alvim, nada mais haver que pudesse retirar da cabeça das pessoas o motivo por que ali estavam, a razão de ser daquele espaço. Actualmente, o cinema King é apenas mais um cinema, perfeitamente integrado na estratégia comercial do grupo Medeia, e, pior do que isso, um espaço que fica com aquilo que o Monumental, o Nimas, o Freeport e o Alvaláxia não rentabilizariam.
Das últimas vezes que fui ao King, nada no ambiente me lembrava o clima efervescente daquela época. Deserto, este espaço faz lembrar, na melhor das hipóteses, o Sâo Jorge quando não tem o Festival do Cinema Francês ou o Indielisboa, na pior das hipóteses, o Quarteto, decrépito local frequentado por gente saudosa dos anos 70.
Com a abertura dos multiplexes supra-citados do mesmo grupo, a Medeia começou a jogar o jogo da Lusomundo. Nada contra a nível prático, pois poucas distribuidoras, pelo importante trabalho de exposição de cinema “alternativo” que desempenham há anos, merecem obter lucro da exposição de objectos artísticos. Se o fizerem de uma forma capitalista, onde aquilo que vende um pouco menos é pago por aquilo que vende um pouco mais, melhor. O que isso não justifica é a exibição de filmes dignos de respeito em espaços que os mercantilizam, que os tomam subalternos a toda a exploração económica subjacente a um espaço cuja rentabilização está dependente, entre outras coisas, da venda de pipocas. É dificil para um espectador mais atento não reparar na quantidade absurda de espectadores acidentais que povoam esses espaços, movidos, em muitos casos, pelas actividades a desempenhar num centro comercial. Em última instância, o bom-nome dos filmes é prejudicado, pois as pessoas acabam por vilipendiar aquilo que não estão preparadas para ver, e, logo, não compreendem. Ademais, isso gera casos estranhos: em Fevereiro, entrei numa sala do Alvaláxia e vi uma pessoa muito bem sentada a comer pipocas. O filme? Saraband de Ingmar Bergman...
Assim, o espaço do King apenas volta a ter a vida de antanho quando alguma iniciativa especial o ocupa. Devido ao facto de Portugal não as ter em número suficiente, o espaço encontra-se vazio a maior parte do tempo, dado que a Medeia opta por pôr a maior parte dos filmes importantes nos ainda recentes multiplexes. Face a um tempo em que nele estrearam “Tudo sobre a minha mãe” de Pedro Almodôvar, “A Pianista” de Michael Haneke, “Intimidade” de Patrice Chereau, “Ondas de Paixão” de Lars von Trier e “O Quarto do Filho” de Nanni Moretti, nos últimos tempos os mais interessantes e importantes filmes a estrear no King foram “Noite Escura” de João Canijo e “Os Tempos que Mudam” de André Téchiné, obras que, independentemente da sua qualidade, não só não se comparam em prestígio com as acima referidas, como também estavam em exibição noutros cinemas do grupo de Paulo Branco.
Lembram-se das tardes de Sábado em que imensas pessoas se encostavam frente aos placares do cinema da Avenida de Roma para ler diversas opiniões sobre os filmes que iam ver? Pois.., actualmente, devido ao número de salas existentes em Lisboa, estreiam quatro a sete filmes novos por semana, e muitos em centros comerciais. Alguma vez lá viram placares dedicados às mais diversas opiniões sobre as obras?... Quando é que foi a última vez que foram, apenas e só, ver um filme a um cinema?
Um Indielisboa todos os meses no King, s.f.f.
Das últimas vezes que fui ao King, nada no ambiente me lembrava o clima efervescente daquela época. Deserto, este espaço faz lembrar, na melhor das hipóteses, o Sâo Jorge quando não tem o Festival do Cinema Francês ou o Indielisboa, na pior das hipóteses, o Quarteto, decrépito local frequentado por gente saudosa dos anos 70.
Com a abertura dos multiplexes supra-citados do mesmo grupo, a Medeia começou a jogar o jogo da Lusomundo. Nada contra a nível prático, pois poucas distribuidoras, pelo importante trabalho de exposição de cinema “alternativo” que desempenham há anos, merecem obter lucro da exposição de objectos artísticos. Se o fizerem de uma forma capitalista, onde aquilo que vende um pouco menos é pago por aquilo que vende um pouco mais, melhor. O que isso não justifica é a exibição de filmes dignos de respeito em espaços que os mercantilizam, que os tomam subalternos a toda a exploração económica subjacente a um espaço cuja rentabilização está dependente, entre outras coisas, da venda de pipocas. É dificil para um espectador mais atento não reparar na quantidade absurda de espectadores acidentais que povoam esses espaços, movidos, em muitos casos, pelas actividades a desempenhar num centro comercial. Em última instância, o bom-nome dos filmes é prejudicado, pois as pessoas acabam por vilipendiar aquilo que não estão preparadas para ver, e, logo, não compreendem. Ademais, isso gera casos estranhos: em Fevereiro, entrei numa sala do Alvaláxia e vi uma pessoa muito bem sentada a comer pipocas. O filme? Saraband de Ingmar Bergman...
Assim, o espaço do King apenas volta a ter a vida de antanho quando alguma iniciativa especial o ocupa. Devido ao facto de Portugal não as ter em número suficiente, o espaço encontra-se vazio a maior parte do tempo, dado que a Medeia opta por pôr a maior parte dos filmes importantes nos ainda recentes multiplexes. Face a um tempo em que nele estrearam “Tudo sobre a minha mãe” de Pedro Almodôvar, “A Pianista” de Michael Haneke, “Intimidade” de Patrice Chereau, “Ondas de Paixão” de Lars von Trier e “O Quarto do Filho” de Nanni Moretti, nos últimos tempos os mais interessantes e importantes filmes a estrear no King foram “Noite Escura” de João Canijo e “Os Tempos que Mudam” de André Téchiné, obras que, independentemente da sua qualidade, não só não se comparam em prestígio com as acima referidas, como também estavam em exibição noutros cinemas do grupo de Paulo Branco.
Lembram-se das tardes de Sábado em que imensas pessoas se encostavam frente aos placares do cinema da Avenida de Roma para ler diversas opiniões sobre os filmes que iam ver? Pois.., actualmente, devido ao número de salas existentes em Lisboa, estreiam quatro a sete filmes novos por semana, e muitos em centros comerciais. Alguma vez lá viram placares dedicados às mais diversas opiniões sobre as obras?... Quando é que foi a última vez que foram, apenas e só, ver um filme a um cinema?
Um Indielisboa todos os meses no King, s.f.f.
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