segunda-feira, janeiro 15, 2007

A Pompa Negra (mais uma vez...)




Christopher Nolan prometia ser um autor. Depois de Memento(2000), contudo, o apelo do sistema foi mais forte. Seguiu-se o muito razoável Insomnia (2002), Al Pacino e Robin Williams em rara forma, e posteriormente, a pompa negra de Batman Begins (2005), banal e a cheirar a dinheiro por tudo o que é lado. Esse cheiro a estúdio, essa negritude bem financiada, estende-se a The Prestige, inclusivamente na manutenção, em papéis principais, de Christian Bale (sempre no meio termo entre o posh e a classe operária) e Michael Caine (toque imediato de classe em todos os filmes em que participa). Juntam-se a este duo o galã Hugh Jackman e a sempre carnal Scarlett Johansson (sem sotaque inglês, por manifesta incapacidade técnica) e a temática da prestidigitação, autêntico "teatro dos sonhos" no mundo bipolarizado entre ricos e pobres da Inglaterra vitoriana.





Todos os filmes de Nolan remetem para uma ideia de obsessão, e, em The Prestige, essa obsessão é a competição entre dois ilusionistas, que desejam tornar-se, cada um, o maior mágico da sua época. É isso o mais interessante da obra: uma guerra sem quartel entre duas personagens, em que todos vão, mais tarde ou mais cedo, enfiar as mãos no lodo. A narrativa escurece a cada passo, e, inclusivamente, "barroquiza-se", e o excesso instala-se. O último plano, por exemplo, estabelece uma ideia do terrível e do sacrifício em prol de uma arte (mas também do reconhecimento público) raras vezes vistas no cinema comercial.

Pena é que Nolan não tenha mão mais forte no desenrolar e no ilustrar da narrativa. Um filme sobre ilusionismo terá sempre que incorporar a ilusão na sua estrutura. Acontece que a sucessão de twists no último terço do filme é tal que, ao invés de provocar a "suspensão da descrença", reforça o distanciamento. Nenhuma reviravolta que, pelo simples factor repetição, já é esperada, pode ser eficaz. O twist que envolve a personagem de Christian Bayle, então, é digno de um romance de cordel vendido em bombas de gasolina.




Nolan é, contudo, um tarefeiro melhor que a maioria, e consegue equilibrar o filme, fazendo-o um prazenteiro exemplo do cinema comercial de alguma qualidade. Está muito longe de ser um mau filme, embora não seja propriamente bom. Acaba por ser um objecto divertido, e com alguns momentos muito bons (quase todos os que contam com a participação de David Bowie). E podia ser pior.

(ver nota no Um Milhão de Estrelas)

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1 Comentários:

Blogger C. disse...

De acordo. Um filme que não me cativou totalmente, tal como o seu realizador... que muitos já se apressaram a chamar de génio, mas que a mim ainda não convenceu. É certo que não é nenhum tarefeiro e tem talento, mas não lhe (re)conheci o material de que são feitos os génios.

9:56 da manhã, janeiro 15, 2007  

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