segunda-feira, janeiro 15, 2007

Já sabemos!



Galardoado com o prémio de melhor realização em Cannes 2006 (porquê?) e nomeado para um sem-número de outros prémios, Babel arrisca-se a ficar como o filme definidor desta temporada. Arriscamo-nos, por outras palavras, a ver concentradas nele as atenções, e a vermos os Óscares confirmados ou refutados nos diversos prémios que, mais ou menos importantes consoante os casos, os antecedem. Isto em detrimento, por exemplo, de The Departed, bem mais interessante, ou de outros de interesse ainda averificar, como The Good German de Steven Soderbergh ou Little Children de Todd Field. Babel é um filme que não merece a atenção que lhe está a ser dada, nem é tão importante quanto, algo solenemente, se acha.

Adiante-se, aliás, que Babel não é um filme mal intencionado, a tentar lucrar com a má-consciência do espectador; pelo contrário, parece feito com salutar honestidade. . O seu defeito é tratar questões relativamente consensuais (o tratamento a que são sujeitos os imigrantes hispânicos nos EUA; as virtudes que existem em partes do mundo islâmico; a desumanização de sociedades altamente desenvolvidas como a japonesa) como se fossem tremendas novidades, revelações a serem incorporadas rapidamente no pensamento comum. Obrigado, mas, no meu caso pessoal, já sei que os imigrantes são, para muitos dos que os acolhem, gado, e sei igualmente que nem todos os muçulmanos são terroristas. E não preciso de duas horas e quarenta minutos de Babel para mo lembrarem.




Exemplo cabal dos defeitos do terceiro filme de Alejandro Gozalez Iñárritu é o segmento marroquino. Um Brad Pitt absolutamente decorativo recompõe a sua relação com a esposa, uma luminosa mas também decorativa Cate Blanchett. Banalidades, despesismo, um enorme vazio a passar, por incapacidade e não por má vontade. Um potencial político abdicado, substituido por nada. Não se percebe bem o que lá está tudo isto a fazer.

E, apesar de tudo, quanto haveria por mostrar de Chieko, a bomba de insanidade magistralmente interpretada por Rinko Kikuchi, a precisar da mais elementar comunicação entre dois corpos para se fazer ouvir. É o único segmento digno de nota, e quase justifica o preço do bilhete. Para fazer um filme interessante, Iñárritu teria de abdicar do panfleto e tentar pôr pessoas no resto da obra. Não o faz, e por isso cai na irrelevância. Por culpa própria.

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1 Comentários:

Blogger Capitão Napalm disse...

Bem vindo ao clube.

3:17 da manhã, janeiro 15, 2007  

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