Horas na Cinemateca VI
O recente ciclo da Cinemateca dedicado a Otto Preminger era uma necessidade. Laura (1944), Anatomy of a murder (1959) e Angel Face (1952 - soberbo o último, muito bons os dois primeiros) são filmes sobejamente conhecidos, mas há todo conjunto de filmes pouco vistos a rodeá-los, mesmo que tenham sido sucessos no seu tempo.
De entre esses, Forever Amber (1947) é o mais estranho, uma espécie de Vanity Fair mesclado de melodrama e com pozinhos de onirismo. A Amber do título é uma jovem voluptuosa (para o que muito contribui o aspecto agradabilíssimo de Linda Darnell, ela de Letter to Three Wives, 1949, de Joseph L. Mankiewicz e de My Darling Clementine, 1946 de John Ford) e ambiciosa, presa à família de puritanos que a adoptou aquando subida ao poder de Oliver Cromwell. Foge para Londres quando Carlos II (interpretado pelo sempre excelso George Sanders, outro actor de Mankiewicz e, por exemplo, de Viagem a Itália, 1954, de Rosselini) recupera o coroa para procurar Bruce Carlton, garboso candidato a corsário. Peripécia atrás de peripécia, falha todos os seus objectivos, tornando-se desterrada.
Filme de época em tons de melodrama dos anos 50 – para o que contribuirá a inicial contratação de John M. Stahl para realizador, despedido posteriormente por Darryl F. Zanuck – ganha-se na tensão entrte o pólo sentimental e a frieza analítica de Preminger, essentialmente um demonstrador da natureza e das motivações das suas personagens. Destaque último para o sexo, constante em toda esta fita, ou não fosse esta a estória (com brilhantes momentos de terror, como o da morte do marido de Amber) de uma mulher que passou por cima de todos e se pôs debaixo de todos sempre que lhe dava jeito. E o final, se não é nem uma vitimização nem uma punição, é porque mostra que esta cabra é uma entre iguais.
Etiquetas: Horas na Cinemateca
1 Comentários:
Miguel, preciso de falar consigo. Pode por favor contactar-me.
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