domingo, agosto 06, 2006

Ensaio - Era Uma Vez na América - 4. Sonhos Opiáceos


Até aqui, todo o trabalho se ancorou na perspectiva de que o segmento de 1968 aconteceu realmente. Contudo, isso seria descurar a importância dos momentos passados no salão de ópio, cuja relevância advém, inclusivamente, de abrirem e fecharem o filme. De facto, o ópio é conhecido, entre a comunidade chinesa, por ser um narcótico capaz de provocar visões do futuro. Esse enquadramento por parte das cenas no salão de ópio, bem, como o muito discutido sorriso final, em grande plano extremo, de Robert De Niro “sob influência”, geram a hipótese de tal segmento mais não ser do que um sonho narcótico. A principal ordem de motivos a justificar esta visão é de cariz lógico. Seria improvável que Noodles, por muito isolado do mundo que estivesse, desconhecesse o rosto do Secretário Bailey, na ribalta depois de um escândalo financeiro parecido com o de Jimmy Hoffa (líder sindical que apareceu morto depois de um escândalo financeiro envolvendo um sindicato). Do mesmo modo, é curioso como não só Noodles escolhe fugir para Buffalo, cidade relativamente próxima de Nova Iorque, num país com cinco mil quilómetros de distância de uma costa a outra, assim como o facto de, no seu regresso, este lidar apenas com personagens que já conhecia anteriormente - factores que, juntos, demonstram o pensamento rasteiro da personagem. Seguindo esta interpretação, o diálogo final entre os dois amigos é a forma de Noodles se prender, voluntariamente, ao passado que lhe escapou. Como o próprio Leone afirmou, ninguém mata as suas próprias memórias. Às 21h 39m, Noodles ainda tem algo a perder. Na realidade, esta hora nunca saiu do presente cronológico da acção, em 1933.

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