Solidão em Surdina
A Vida Secreta das Palavras, segunda obra de Isabel Coixet a estrear em Portugal, é feita de dor interiorizada, de dor impossível de contar. É um filme lindíssimo, que lembra em vários momentos a forma estilizada como Wong Kar Wai trata os seus cenários (brilhantes os momentos de chuva a varrer a plataforma petrolífera).
Hanna, impressionante Sara Polley, empregada fabril exemplar ao ponto da obsessão, é obrigada a tirar férias, depois de quatro anos de trabalho ininterrupto. Por tédio ou por medo de demasiado tempo a sós com a sua consciência, emprega-se como enfermeira numa plataforma petrolífera, tratando de Josef (tocante Tim Robbins), ferido num acidente traumático e parcialmente queimado. Uma estranha forma de amor estabelece-se entre ambos, baseada sobretudo no silêncio e na partilha de mazelas espirituais.
Hanna, impressionante Sara Polley, empregada fabril exemplar ao ponto da obsessão, é obrigada a tirar férias, depois de quatro anos de trabalho ininterrupto. Por tédio ou por medo de demasiado tempo a sós com a sua consciência, emprega-se como enfermeira numa plataforma petrolífera, tratando de Josef (tocante Tim Robbins), ferido num acidente traumático e parcialmente queimado. Uma estranha forma de amor estabelece-se entre ambos, baseada sobretudo no silêncio e na partilha de mazelas espirituais.
Importa afirmar que A Vida Secreta das Palavras, independentemente da sua beleza, é um falhanço. Porque, no final, transformado em libelo anti-tortura, a realizadora muda brutalmente o cerne do filme de uma ideia abstracta de dor, inominável, para a imensa imaginação dos cruéis, e para necessidade de os combater. Questão de uma pertinência indesmentível, mormente no período que atravessamos, mas que acaba por tornar o filme menos ascético, e baixá-lo às “nódoas” do comportamento humano. E havia tanto para explorar na deslocação emocional dos homens de enorme força física, a começar pela brilhante personagem de Javier Camara , intrigante na forma delicada e amorosa como trata a comida, como se ela lhe lembrasse alguém.
Num texto que até partilha com este algumas opiniões, Daniel Pereira argumenta que os homens são, neste filme, cowboys e a plataforma o saloon. Respeitosamente, creio que a imagem é algo imprecisa. Creio que as personagens são cowboys, mas a plataforma é a sua cabana no meio do desfiladeiro de onde, por muito que queiram, já pertencem ao ponto de não funcionarem em mais nenhum lado. Ou então são, como dizia uma personagem no Insomnia de Christopher Nolan, gente que foi para o Alaska para fugir de alguma coisa. Não há maior desfiladeiro que o mar, não há maior isolamento que a insularidade. Se este filme merece quatro estrelas, é porque há vida suficiente na plataforma para sustentar dez filmes – três das estrelas são para esses momentos.
Etiquetas: Impressões
1 Comentários:
Assumo a imprecisão e aceito a tua alternativa. De facto, a cabana no desfiladeiro é uma melhor imagem para o imaginário que se quer fazer passar.
Ainda bem que foste ver o filme. Apesar de tudo, é preciso que se veja este filme e dele extrair aquilo que tem de perfeito.
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