domingo, julho 09, 2006

Interferências Musicais - III

Comece-se por constatar a dificuldade existente em manter uma publicação de teor crítico em Portugal. Por um lado, somos um mercado minúsculo, com carências a nível dos hábitos de leitura, existentes quer por questões culturais, quer por questões educacionais. Por outro, os brandos costumes, que parecem impossíveis de erradicar, tornam o confronto de ideias incómodo aos olhos da maioria de nós. Neste contexto, algo vende mais facilmente se consensual do que se relevante ou inovador.
Tudo isto a propósito da fraca primeira edição do Blitz. Perdão, da Blitz, agora que foi extinto o vetusto jornal semanal e inaugurada a revista mensal. Com direcção de Miguel Francisco Cadete, que depois de uma longa estadia no Público regressou à casa-mãe nos últimos números e agora lidera o novo projecto, parece ser uma tentativa de simplificar o cariz do jornal, alargando assim o seu público. Infelizmente, a proposta de uma publicação que parece ir beber às britânicas Mojo e Uncut revela-se pobre, incapaz de grande profundidade ou de grande complexidade, e aposta inclusivamente num grafismo canhestro, que, na sua tentativa frustrada de parecer cibernético, não deixa escapar alguma “parolice”. As críticas são minúsculas e desinteressantes, demasiado formatadas nas notas (todos os álbuns revistos nesta edição são, na pior das hipóteses, medianos) e alguns dos artigos são francamente desinteressantes: depois de ter ouvido as opiniões de praticamente toda a gente sobre o Mundial 2006, só me faltava mesmo saber o que pensava Pink…
Há efectivamente espaço para evoluir, e louve-se a entrada de Rui Tavares numa crónica mensal que promete, bem como o excelente artigo sobre os Rolling Stones e Altamont. Mas sobressai que esta é uma remodelação forçada por margens de lucros maiores, ligadas ao facto de a publicação ser propriedade do maior grupo económico ligado à imprensa. Dificilmente é credível que o Blitz tivesse falta de público e não lucrasse, mesmo que em pequena medida. Aliás, se isso aconteceu, o dedo deve também ser apontado às sucessivas administrações da Impresa, nomeadamente na sua escolha, há alguns anos atrás, de Sónia Pereira para directora. Essa Margarida Rebelo Pinto do jornalismo musical alienou o património de muitos leitores regulares que o Blitz tinha. Quando isso acontece, dificilmente uma publicação se levanta de novo. E agradar àqueles que crêem que os críticos são apenas frustrados e ressabiados, não é solução de longo prazo.

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2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

olá miguel, como estás?
aqui tudo óptimo. pois bem, a blitz.
é coisa para dar pano para mangas, mas vão aqui alguns bitaites:

1) graficamente discordo imenso de ti - gostei: parece-me apelativo, convincente, chamativo, sem passar essa linha ténue entre o apelativo e o piroso. gostei.

2) a uncut e a mojo são as referências maiores, certo. concordo em absoluto.

3) há espaço no mercado nacional para esta blitz? o tempo o dirá. daqui a uns dias meto aqui o link para uma reportagem que fiz sobre isso mesmo, com diversas opiniões de pessoal do meio e afins - acho que é uma contribuição útil para tudo isto.

abraço!
PF

3:14 da tarde, julho 11, 2006  
Anonymous Anónimo disse...

cá está o artigo em questão, edição de julho da rua de baixo:

http://www.ruadebaixo.com/artigo.php?seccao=visuaisEBarulhos&idNoticia=1572

abraço!
PF

11:20 da tarde, julho 11, 2006  

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