segunda-feira, maio 08, 2006

Meio Sem Mensagem

A Palma de Ouro, entregue pela segunda vez no Festival de Cannes aos irmãos Dardenne por este A Criança, ao que tudo indica como compromisso do júri face aos filmes que o dividiam, Broken Flowers de Jim Jarmusch e Caché de Michael Haneke, só prejudica os cineastas belgas. Por um lado, eleva-os ao nível de cineastas superiores qualitativamente e com mais obra feita (Shohei Imamura e Emir Kusturica – curiosamente, o presidente do júri da edição de 2005 – para dar apenas dois exemplos). Pior do que tudo, dá ainda a Palma de Ouro a um filme menor, que não se pode valer do efeito de novidade que perpassava Rosetta, filme agraciado com o prémio em 1999.
Se o prémio foi dado a um filme menor, foi-o porque o realismo despojado e seco de Pierre e Jean-Luc Dardenne esbarra na ausência de perspectiva. A história de um jovem, malandro de profissão, que tenta vender o filho recém-nascido, perde-se na enumeração básica das tropelias do rapaz. Na única subversão do esperado, a criança do título não é o bebé vendido, mas Jérémie, o pai da criança. Será isso o suficiente para dar um olhar sobre assuntos complexos como a delinquência juvenil ou o tráfico de crianças? Compare-se então esta obra com Os Mutantes de Teresa Vilaverde: também aí o social não está à frente do espectador, embora sirva de sustento narrativo. Mas o meio opera sobre as personagens e sobre o assunto, e sublinha os seus sentimentos ao tornar a raiva uma questão de levitação. A Criança? Um simples caso de meio sem mensagem, com peças de xadrez a servir de pessoas.

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