quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Sobre a Reposição


Com Aurora (1927) de F.W. Murnau, o cinema Nimas aparenta ter iniciado nova vida, dedicada, a meias com o documentário, à prática de reposição de filmes do passado. Não sendo nova, essa prática parece ser de sucesso garantido, julgando, pelo menos, pela resposta popular ao filme já referido e, agora, a O Leopardo (1963) de Luchino Visconti.

À partida, as vantagens são evidentes, quer para exibidores que para espectadores. Os primeiros podem juntar os curiosos, os saudosistas, os fanáticos e os iniciados, numa abrangência francamente dificil de alcançar; os últimos podem ver um filme em horários mais variados e num espaço de tempo mais alargado que o tradicionalmente oferecido pela Cinemateca e, aproveitando iniciativas como o King Card, ver mais do que uma vez os clássicos num período de tempo mais concentrado.

Contudo, um perigo ameaça as reposições, do ponto de vista cinéfilo. a cristalização da obra de um cineasta à luz dos preceitos de uma obra magna. Por outras palavras, mostrar O Leopardo contribuirá para reavivar memórias de uns e aumentar a cultura cinematográfica de outros, mas continuará a deixar semi-esquecidas obras como Noites Brancas (Visconti, 1957). Embora Profissão: Repórter (Michelangelo Antonioni, 1975 - a ser reposto proximamente) seja um Antonioni menos conhecido, há outros mais importantes; seria interessante mostrar obras como A Aventura (1960) e O Eclipse (1962), cujo acesso é mais difícil e que, á semelhança do Visconti acima referido, são obras importantíssimas. É pena que Portugal não possa ter um circuito de reposições como o francês, onde, só em 2005, foram respostas em sala seis obras de Yasujiro Ozu e treze obras (!!) de Rainer Werner Fassbinder. Aí, os desiquilibrios serão, decerto, menores.

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5 Comentários:

Blogger Ricardo disse...

Olá Miguel, espero que esteja tudo bem contigo. Este é um ponto muito importante.

De facto, O Leopardo é uma óptima maneira de chamar um público vastíssimo, mesmo aquele que nem costumam ver filmes clássicos, dado o alargado tempo de exibição e a promoção nos media. Na Cinemateca chega a ser desesperante quando obras-primas do cinema (Greed, the Bad and the Beautiful) passam só uma vez e às 15.30 da tarde quando ninguém pode ver.

Uma maneira seria de facto, como tu pareces sugerir, um autor por ano, por exemplo agora passarem alguns do Visconti (os malditos continua a ser um filme forte ainda hoje, ou o intemporal Morte em Veneza), durante um tempo não muito alargado, 1 mês no máximo.
Abraço

10:51 da manhã, fevereiro 16, 2006  
Blogger Mafalda Azevedo disse...

Olá Miguel e olá Ricardo!

Concordo com ambos mas queria deixar um pedido. Então Miguel onde anda esse texto sobre o Leopardo? Palavra que gostava de ler um texto teu sobre essa obra-prima. (Leopardo é daqueles filmes que martelam na nossa cabeça desde o dia em que os vimos e até ao final da nossa existência.)
E o Senso e o Noites Brancas também são filmes maiores de Visconti.

11:00 da manhã, fevereiro 16, 2006  
Blogger Miguel Domingues disse...

Obrigado, pessoal, pelos comentários.

Ainda tenho de ver o filme, sei lá, mais umas duas vezes, para poder escrever algo sobre ele. Há um problema com estas obras: já foi escrita tanta coisa, que é importante não chover no molhado.

Cumprimentos,
Miguel Domingues

4:00 da tarde, fevereiro 16, 2006  
Blogger Hugo disse...

Miguel!

De facto, não é à toa que se diz que a França é um país de cinéfilos (e convenhamos que fazer reposições de Fassbinder é um acto de coragem).

Quanto ao Antonioni, só me ocorre uma velho ditado popular: "mais vale um pássaro na mão..."

Curiosidade: no dia em que fui ver (uma vez mais!É dos que nunca cansa) Il gattopardo, para além de mim, só estava outra pessoa na sala...(e sim, era uma Quinta-Feira, sessão das 21.30)

Abraço

PS- confesso que também gostava MUITO de ver um texto teu sobre este filme enorme.

12:12 da manhã, fevereiro 18, 2006  
Blogger Miguel Domingues disse...

Olha, Hugo, no meu caso, comprei o bilhete 5m antes da sessão de Sábado á noite e tive de ficar na primeira fila. Pior, descaído para a direita, o que fez com que muitos planos oblíquos fossem, para mim, frontais...

Take Care,
Miguel Domingues

1:17 da manhã, fevereiro 18, 2006  

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