terça-feira, novembro 22, 2005

A Antropomorfização Sentimental

É um sucesso e percebe-se porquê. "A Marcha dos Pinguins" enquadra-se numa longa tradição de maravilhamento visual com a Natureza, que congrega não só a vontade de pertença ao mundo pelos humanos, como explana a sua duplicidade. Este é o tipo de filme que se vê depois de carregar o depósito da viatura com gasolina, para qua a beleza aplaque a má consciência.
Tecnicamente exemplar, relata a epopeia dos pinguins no seu processode acasalamento e procriação que, num dramatismo impensável, inclui diversas formas de morte (fome, frio, fraqueza, as mandíbulas de uma foca) até ao sucesso final. Até aqui nada de novo, e seria um objecto bem recebido nos sábados de manhã narrados por Eládio Clímaco. Contudo, precisamente pra fugir desse ermo, Luc Jacquet optou por algo como uma "antropomorfização

sentimental". Dois narradores lêem um texto escrito com a intenção de narrar sentimentos e pensamentos destas aves, e de assim criar emoção no espectador. E aqui reside o falhanço desta obra: sentido a descrição visual como insuficiente, a melosa narração tenta atribuir significado ao determinismo. Com isso, mais não faz do que limitar a Natureza ao olhar humano, estabelecendo, mesmo que inconscientemente, essa prática como um padrão tipificado de olhar a vida não-humana.
As pessoas vão gostar. Os pinguins sentir-se-ão profundamente usados por encarnarem valores tidos como benéficos pela espécie humana. E catorze meses de vida na Antártida não serviram ao francês para abandonar certos vícios civilizacionais.

Etiquetas:

2 Comentários:

Blogger Daniel Pereira disse...

Sejamos francos - é um mau filme. Aquela narração sentencia-o.

10:03 da tarde, novembro 28, 2005  
Blogger gonn1000 disse...

Não é mau, mas também não é bom. É um filminho giro que vai bem com o Natal.

10:21 da tarde, novembro 30, 2005  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial


Free Hit Counter