terça-feira, setembro 27, 2005

Notas Para a Definição do IndieLisboa 2005 pt. 3

Invasão Sul-Americana

A América do Sul foi a localização geográfica privilegiada deste certame. Na secção Herói Independente, dedicada ao novo cinema argentino - a par com as obras do cineasta chinês Jia Zhang-Ke, as hostilidades abriram com Mundo Grua, obra de estreia de Pablo Trapero (Herói Independente, 22 de Abril, King 3, 15h30m, sessão composta). Filme seminal na "nova vaga" deste país, é um filme crú, de camera ao ombro, feio, porco e bom, que segue a vida de uma ex-rock star forçada a a trabalhar na construcção civil devido à crise económica que grassa no país. Fortemente assentimental e com um humor muito desesperado (Médico: Fuma? Paciente: Um pouco. Médico: Quantos cigarros por dia? Paciente: Trinta.) foi uma lufada de ar fresco numa cinematografia à época estagnada.
Dias de Santiago (Competição, King 1,24 de Abril, King 3, sessão cheia), também uma estreia, a de Josué Mendes, é como que uma mistura peruana entre Taxi Driver e Os Imortais. A personagem-título é um antigo soldado nas guerras do seu país contra o Equador e contra os barões da droga, obrigado a regressar a uma vida incerta, triste, misógina, cheia de irrupções regulares de violência. Não sendo exactamente original, é interessante porque mais gráfico do que a maioria na demonstração da paranóia ubíqua da sua personagem, misturando para isso imagens limpas e tradicionais com video digital granuloso e filtro de imagem azul-carregado, dependendo da violência do momento. E assim se colmata alguma previsibilidade.
Não há duas sem três: a terceira estreia proveniente deste continente foi Parapalos ( Competição, 29 de Abril, King 1, esgotado), de Ana Poliak, uma história prazenteira de um grupo de personagens que faz o turno da noite de um salão de bowling em Buenos Aires. O filme é uma viagem a um quotidiano desesperançado, em que o facto de se trabalhar num sítio tão esquecido que nem sequer tem reposição automática de pinos - o título é o castelhano para "pin boy" - faz da memória nuns casos e da vegetação noutros a prática corrente. Misto de malaise civilizacional, escape da crise e mágoa constante, é ganho pela levitação e pelo tratamento poético evanescente da tristeza. Esperemos que Ana Poliak volte brevemente.

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2 Comentários:

Blogger Daniel Pereira disse...

Concordo no "Dias de Santiago" e os outros dois não vi (até parece que não estive lá). Ainda não é desta que o debate começa...

6:01 da tarde, setembro 27, 2005  
Blogger gonn1000 disse...

Desses só vi "Dias de Santiago", que achei curioso mas pouco marcante. Tenho pena de não ter visto muitos dos argentinos, mas algo tinha que ficar de fora...

4:19 da tarde, setembro 29, 2005  

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