quarta-feira, novembro 09, 2005

Azul Desespero


Drama humano ancorado na repetição, Alice organiza-se como uma daquelas dores de cabeça imensamente perturbantes : tudo o que se faz para combater a dor redunda em nada e esta amplia-se pela sua persistência. Sempre igual mas sempre diferente, sempre pior.

Na estreia de Marco Martins, o mundo é pintado através do pessoal. Mário, inadjectivavel Nuno Lopes, é alguém que cobre o mundo com os tons azúis do desespero. Daí ver Lisboa como o ponto de encontro de milhares de solidões. Mas o mérito maior de Alice reside no reconhecimento que cada um pode fazer desta dor. Não que se deixe de realçar o drama pessoal, independente, único de Mário. Mas essa individualidade é integrada em parâmetros comuns do sofrimento, nomeadamente na forma como este transforma a identidade e o comportamento. Por outras palavras, todos nos podemos ver na forma como Mário não se vê, pelo menos nos momentos iniciais, na sua própria imagem transmitida num mosaico de ecrãs. Ou na forma como o percurso cristalizado no molde do do dia do desaparecimento da filha é agora tão distinto, tão mais frio.
Aqui não se vê nada da Humanidade, vê-se um nada do que é ser humano. É um dos filmes maiores de 2005 - e não interessa se é português.

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2 Comentários:

Blogger Daniel Pereira disse...

Não concordando com o valor da obra, gostei muito do texto, com o qual concordo.

6:53 da tarde, novembro 09, 2005  
Blogger gonn1000 disse...

Desequilibrado e sobrevalorizado, mas interessante.

9:58 da manhã, novembro 15, 2005  

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