O Cinema a quem o trabalha
Hoje, cheguei do trabalho à uma hora da manhã. Entre o jantar e a minha habitual pesquisa na net, deparei-me, no meu mail pessoal (migueldomingues111@hotmail.com, se alguém estiver interessado), com este excelso pedaço de poesia:
Lisboa, 21 de Setembro de 2006
COMUNICADO
Em Janeiro de 2005, os Cinemas Millenium SA associados à Medeia Filmes SA , fizeram o lançamento do cartão King Kard, que, como é do vosso conhecimento é utilizável em condições idênticas nas salas de cinema exploradas por ambas as empresas.
Este cartão tem tido enorme sucesso, especialmente nas salas afectas aos Cinemas Millenium situadas no “Alvaláxia”.
Por decisão unilateral da Medeia Filmes SA, que nós repudiamos veementemente, fomos surpreendidos com o facto de não mais aceitarem, a partir do próximo dia 1 de Outubro o cartão King Kard nas suas salas.
Na expectativa da vossa compreensão, reiteramos o nosso esforço em continuar a oferecer aos nossos clientes uma programação diversificada e tão completa quanto possível nas nossas 16 salas.
A Administração
Os impropérios afogaram-me a mente, emissários da revolta. Como signatário do cartão, sinto a medida como uma afronta pessoal, passível de influenciar a minha vida cultural de forma irremediável. E só não deixo de ir às salas da Medeia pelos filmes que esta frequentemente apresenta em exclusivo. Em boa verdade, sempre achei a iniciativa demasiado boa para ser verdade. Mas pensemos no assunto com mais clareza.
1) Lembro-me, à altura do lançamento, de ter lido um responsável pela ideia dizer que, se todos os signatários vissem dez filmes por mês, a empresa teria prejuízo, mas logo a desmistificar a hipótese. Pois bem, eu acredito que muitos de nós viram dez filmes por mês. E acredito que se não o tivéssemos feito, a empresa teria tido poucos motivos para exibir alguns filmes e, por conseguinte, de vender a ignominiosa publicidade que passa antes dos mesmos. Nesse aspecto, a empresa só lucrou.
2) Iniciativas como o King Card só melhoraram a imagem da empresa como defensora da cultura em Portugal. São, inclusivamente, uma fonte de perdão para uma empresa que insiste em programar Larry Clark ou Wang Xiaoushuai ao invés de Hou Hsiao Hsien, e que, apesar de se gabar das imensas ligações no estrangeiro, raras vezes repõe as cópias de filmes venerandos que nesses países estão nas salas - França à cabeça.
3) Paulo Branco gosta de ir para a RTP armar-se em defensor da cultura nacional - a cinco euros e vinte a dose, claro está. Expliquem-me o grande serviço desta medida, se faz favor.
Ah, e, por favor, não me venham com a treta neo-liberal que o cinema até é barato em Portugal. Paguem-me o mesmo que se ganha na França, na Alemanga e na Inglaterra e eu deixo de me preocupar com o estado em que esta medida me deixou.
Estou fodido! E depois admirem-se de, contra muitos, os bilhetes a dois euros e meio da Cinemateca continuarem a vender-se muito bem.
* realmente, quem tira uma foto assim, estilo "Nick Cave da Amadora", não pode ser boa rés...
Etiquetas: Discussão
3 Comentários:
Aquilo que imediatamente pensei quando li a notícia remete para esta tua ideia: "(...)passível de influenciar a minha vida cultural de forma irremediável."
Lado positivo: havemos de ir mais vezes à cinemateca.
Lado negativo: havemos de ir menos às salas de estreia comercial, o público desses cinemas irá decrescer, a exibição de cinema dá mais um passo atrás, levando consigo os que ainda sutentam esta forma de cultura.
Acham mesmo que agora vou arriscar 4 euros (ou lá o que é) para ver o próximo filme do Fernando Lopes? Sim, porque parece que este está em grande - 3 filmes em 4 anos.
Antes ver o "Belarmino" cada vez que ele passar na Cinemateca.
Depois queixem-se.
Dégueulasse! Não há palavra que descreva melhor isto. Quer dizer, há uns quantos impropérios que me recuso a dizer em público...
É como diz o Daniel, viva a Cinemateca. E olha que sendo Amigo da Cinemateca a coisa fica ainda mais apetecível.
Abraço
Não sou nem nunca fui possuidor de King Kard, pelo facto de não ir assim tantas vezes ao cinema regular comercial. Num mês "hot season" devo ir 3 vezes no máximo.
Quanto ao Sr. Paulo Branco toda a vida só soube lixar os outros, sem olhar a meios para conseguir o que queria. Se isso passa por afectar os espectadores, não é isso que o vai parar.
E o Daniel e o Hugo falaram bem - a Cinemateca é o único sítio onde o cinéfilo é tratado com respeito, e onde o preço dos bilhetes não pesa tanto à bolsa.
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