domingo, setembro 10, 2006

Horas na Cinemateca - III



Imediatamente a seguir à Segunda Guerra Mundial, a batalha continuou. Numa Europa onde a maioria depauperada convivia com a minoria abastada, as classes mais baixas sonhavam com a prosperidade prometida pela vitória da Democracia. Em Antoine et Antoinette, que Jacques Becker realizou logo em 1946, a batalha da sobrevivência apaga por completo qualquer lembrança da Guerra. Obra fluída como poucas, lida com a sorte, e com a hipótese de fuga à pobreza instalada.

O que Becker mostra com este filme é a sua excepcional capacidade de filmar histórias, apoiado num milimétrico e burilado argumento. Mas é, bem mais do que Casque d'Or, o filme que demonstra a sua extrema filiação no cinema de Jean Renoir, de quem, aliás, foi colaborador em diversos filmes. Há um lado humanista, no sentido, de quem conhece todas as gradações da Pessoa, desde a mais modesta qualidade ao mais irreparável defeito (brilhante o merceeiro que, como todos os ricos, acha a vida dos pobres muito engraçada).

Becker era um optimista, sempre pronto a pensar que os bons iriam ser compensados e os maus punidos. Assim acontece como o casal que nomeia o filme, premiado com uma cautela vencedora. Mas é precisamente nos momentos em que Antoine lida com o facto de ter perdido a cautela que este belo filme revela a sua essência: do que se trata aqui é de gente simples a tentar manter a cabeça fora de àgua.


E isso é (quase) sempre muito belo, especialmente quando não descamba no "elogio da pobreza".

Etiquetas:

1 Comentários:

Blogger Hugo disse...

C'os diabos! E eu fechado num prédio vizinho ao sítio do costume a trabalhar furiosamente. :-(

9:47 da tarde, setembro 10, 2006  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial


Free Hit Counter