Uma Chamada Perdida
A brejeirice natural poderia fazer-nos pensar que que Uma Chamada Perdida estreia em Portugal apenas por dois factores aqui omnipresentes: a violência infantil e os télémoveis. Grosseria à parte, é de saudar a estreia de uma película de Takashi Miike em Portugal, mesmo que para isso se aproveitem eventuais similaridades deste com remakes americanos de fitas de horror nipónicas.
Consequentemente, apenas a espaços o filme encontra a estética de choque colada ao cineasta japonês. A melhor comparação possível para esta história, misto de pesadelo e mito urbano, é um ar condicionado na sua potência máxima fixamente apontado a um ponto nas costas, fazendo assim o frio alastrar ao resto do corpo. Gélido, fluente e iconoclasta (transforma figura prezadas da infância como a família e o ursinho de peluche em figurinos num cenário de morte) perde apenas em ser um tanto banal visualmente, e em não ter momentos de pânico e de horror visual como o final de Audition (1999). Tem, em contrapartida, uma eficácia muito prezável, uma riquíssima encenação do sensacionalismo televisivo e um plano de uma jovem agarrada a um cadáver que, fosse Miike mais pretensioso, poderia ser um condensado de Ringu com Lágrimas e Suspiros. É apenas bom, e numa altura tão má para o terror não-oriental, isso não é nada mau.
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