segunda-feira, dezembro 18, 2006

Contra João Lopes

Quero ser crítico de cinema. Assumo-o, sem qualquer vergonha mas também sem qualquer pedantismo. Não é pelo dinheiro, mas também não é pelo prestígio. É somente porque, a conseguir esse feito, juntarei na minha vida profissional duas das minhas obsessões: a palavra escrita e a celulóide em movimento.

Entro em guerras, desço ao nível dos outros, mas poucas vezes levo a coisa a peito. Faz parte, dá sal à tarefa – os inimigos são um bem precioso. Simultaneamente, considero a crítica não a arte de odiar, mas a arte de amar.
Sou forçado a entrar numa guerra que, a bem dizer, deveria pertencer a toda a blogosfera: a de lutarmos por sermos considerados como gente de ideias próprias e legítimas, independentemente de não estarmos na folha de pagamentos de qualquer publicação. Discuto por isso, alguns dos preceitos que João Lopes, figura incontornavel da crítica nacional há vinte e tal anos, nos textos “Borat”: 3 verdades e 4 ideias e A Cinéfilia Depois de Borat. Antes de avançar, digo apenas que não gostei particularmente de Borat, respeitando somente a ideia de provocar por modo a mostrar o mais mesquinho que há na América.

(…) parecendo que não, Amor de Perdição foi há 28 anos, ainda não tinham nascido alguns dos que, agora, parecem conhecer todas as linhas que escrevi seja sobre que assunto for. [Sublinhado meu]

A idade é, para João Lopes, um motivo de exclusão. Truffaut, como todos sabemos, começou a escrever com 61 anos e Jean-Luc Godard só tem publicados textos póstumos. Realmente, numa coisa Lopes tem razão: nenhum de nós teve vinte e tal anos de Expresso, de Diário de Notícias ou de Cinemateca. Não é que não possamos ter mérito; falta-nos currículo. Mas a ideia de um blogue servir de cartografia da educação cinéfila de alguém não lhe ocorre.
Já agora, o seu protegido e crítico bastante fraco, Tiago Pimentel, que idade tem?

Na prática, gera-se o mais primitivo dos efeitos tribais: quem não está na tribo (dos que admiram um determinado filme) só pode ser insultado e ridicularizado ou, na melhor das hipóteses, tratado como um pobre ignorante. E só por distracção se poderá julgar que esta descrição de alguns dos costumes dos nossos tempos é excessiva — bem pelo contrário, se tal descrição peca por alguma coisa, é por defeito.

No cinema, não há tamanha tribo, fechada e hostil, quanto a dos críticos. Quanto mais não seja por ser um mercado de trabalho complicado em termos de vagas. E, já que falamos de belicismo, posso lembrar a querela entre Lopes e Eduardo Prado Coelho a propósito de Parque Jurássico? Ou as de Prado Coelho com toda a gente a propósito de Amélie Poulain? E são eles os civilizados…

O que se passa é que essa pueril guerra de "exclusões" é o passatempo banal de muitos espectadores que se exprimem na Net, a maior parte das vezes visando uma entidade monstruosa a que, por desconhecimento ou desprezo, decidiram dar o nome de "crítica".

De novo sem referir nomes, o crítico do DN também falha em olhar para o parceiro do lado: não há, na crítica portuguesa, ninguém mais exclusivo do que Pedro Mexia, sempre pronto a apontar defeitos a tudo e a todos. É, inclusivamente, esse pedantismo existencialista que torna os textos de Mexia interessantes.

No fundo, não conseguem compreender que a crítica (melhor ou pior) é feita de textos, ideias, pensamentos e perplexidades — e não dessa coisa divertida, mas superficial e arbitrária, que são as estrelinhas que se atribuem aos filmes.

Finalmente, concordamos. Mas, neste assunto, quem está a demonstrar ser superficial e arbitrário?

Antoine Doinel, o alter ego cinematográfico de François Truffaut, interpretado por Jean-Pierre Léaud, é aquele que, na entrada de uma sala de cinema, rouba uma fotografia de um filme de Ingmar Bergman que o fascinou (Mónica e o Desejo), mas também um leitor encantado de Balzac — está tudo em Os 400 Golpes (1959), um bom filme para começarmos a ser cinéfilos em vez de gastarmos tempo precioso a insultar o parceiro do lado.

E os imensos espaços, melhor ou pior preparados, que o tentam fazer? Ignorados pelo escriba, decerto. Ah, já agora, alguém apresente a Nouvelle Vague aos bloguistas portugueses, que nunca ninguém escreveu sobre esse movimento…

*****

Ambos os textos de João Lopes estão pejados de pedidos de discussão respeitosa de ideias. Pois, bem, por muito respeitosas que sejam as palavras, a postura de João Lopes nada tem de respeitoso. Quanto mais não seja porque não dá quaisquer provas de conhecer parte significativa da blogosfera nacional. E porque, acusando amiúde os outros de generalizar a crítica profissional, generaliza ele próprio a blogosfera – mesmo escrevendo frequentemente “alguns”.

Para quem é tão bom a demonstrar os erros da casa dos outros, que tal olhar para a sua própria casa, e escrever sobre os problemas da crítica cinematográfica? E, de caminho, perceber que nem sempre o meio é toda a mensagem?
Vai ser mandado um mail ao próprio a alertar para a existência deste post. Esperemos que ele se defenda, como é de direito. Peço a quem comente uma coisa: estamos a discutir a ideia, não a pessoa. João Lopes merece respeito, o mesmo que, diga-se, em parte nos nega.

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terça-feira, dezembro 12, 2006

Mudança de Planos seguida de Intervalo


Por motivos de trabalho, pouco tempo tenho para escrever neste pasquim virtual. Até dia 15 de Janeiro, nada direi. Interrompo o intervalo apenas a 1 de Janeiro, para referir os meus filmes preferidos de 2006. Fica, então, sem efeito o projecto que aqui tinha anunciado há alguns dias.

Boas festas para todos.

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segunda-feira, dezembro 11, 2006

Que este filho da puta esteja já a arder no Inferno ao lado de todos os da laia dele

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quarta-feira, dezembro 06, 2006

Benefícios da Linguística



Deve ser doença académica, mas a certa altura dou por mim a ver as coisas da perspectiva das aulas que tenho. Aconteceu-me isso com Lost in Translation e, recente e improvavelmente, com a linguística.


Não vou entrar em pormenores técnicos que, em si mesmos, são pouco interessantes. Mas, desde que tenho a cadeira de Comunicação Intercultural, nunca mais vi o "Hey You!" de Murray a Johansson, mesmo no final do filme, da mesma forma. Depois, há a frase ao ouvido, há o rosto tudo-ou-nada dele, há as lágrimas nos olhos dela. Mas é nesse momento que todo o desejo de intimidade se revela, que se dá o assumir da paixão, que uma muralha cai sem fazer barulho.


Podia falar de implicatura, de convenções de nomeação, de vocativo e do diabo a doze. Digo apenas que é um momento lindíssimo.

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sábado, dezembro 02, 2006

Aconteceu algo de anormal? Não. Ganhámos!

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sexta-feira, dezembro 01, 2006

A Quem Interesse

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