terça-feira, maio 23, 2006

Intervalo

É só para dizer aos convivas deste espaço que as actividades estarão suspensas, por motivos académicos, até ao próximo dia 7 de Julho.
Até então,
Miguel Domingues

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segunda-feira, maio 15, 2006

Carta Aberta a Hugo Alves


Caro Hugo Alves:

Há algum tempo publicaste no teu blog (http://wwwamarcord.blogspot.com/) um loquaz artigo intitulado Função social do Cinema? Nele, se bem o entendi, começas por afirmar que tudo tem uma função social, e o cinema não é excepção. Posteriormente, declaras o teu gosto pelos modelos narrativos e estéticos neo-realistas, devido aos valores humanos que perpassavam as obras dos diversos realizadores. Terminaste dizendo que talvez a maior função social do cinema fosse demonstrar amor ao Cinema, contribuindo para a perpetuação do meio. O cinema é Cinema somente quando conhece, utiliza capazmente e homenageia o meio em que se inscreve.
Pois bem, venho por este meio contestar alguns pontos do teu texto, nomeadamente aqueles que se relacionam com o neo-realismo.

Começo por dizer que nenhum filme pode valer-se única exclusivamente de uma qualquer ideia de intervenção social e política como afirmação estética. Aí, o exemplo cabal do neo-realismo é preponderante. A importância deste género justifica-se pela forma como, na sua época, foi o mais eloquente vector de um dos desejos básicos do cinema: a capacidade de mostrar a própria vida, sem concessões e sem embelezamentos fúteis. O neo-realismo propunha-se assim a eliminar o mimetismo e, logo, o simulacro, e a inscrever um pedaço de vida numa série de quadrados de celulóide. Nada contra, não fora o facto de, por exemplo em Roma Cidade Aberta, Rossellini ter utilizado, parafraseando Eric Rohmer, a falta de imaginação como argumento artístico. A importância histórica ninguém lha tira; muitos já a ultrapassaram. Fora os "fait-divers" (a rodagem em cenários naturais e com som directo, por exemplo), pouco resta de opção estética verdadeira por parte do italiano. Não por acaso, são muito mais interessantes os filmes do italiano sobre algo que bem conhecia – a sua relação com Ingrid Bergman.

Naturalmente, toda essa estética foi brindada com elogios por parte dos turcos dos Cahiers – nesse modo de filmar radicava uma posição perante o mundo. Acontece que, no meio dessa nova posição, esqueceu o Cinema. Os turcos que tanto o elogiaram ultrapassaram-no, ao tornarem cada objecto em noventa minutos mistos de idiossincrasia formal e intervenção social. Para o fazer, é inclusivamente necessário, como ainda hoje faz Godard e muito bem, tornar o mundo numa realidade meta-cinematografica. É necessário aproveitar ao máximo o aparato totalitário do cinema, aproveitando assim as suas possibilidades de comunicação (aqui, quem quiser poderá ver manipulação). Toda a comunicação implica consenso, mas também implica algo de individual; senão, estará condenada á partida, sob pena de futilidade. Rossellini esconde-se atrás das câmaras. Paradoxalmente, vejo mais vida nas cores sumptuosas e artificiais e nos cenários de estúdiode Michael Powell (conferir The Life and Death of Collonel Blimp, fascinante tratado sobre o envelhecimento sobre o fraccionamento de vidas pessoais em tempo de guerra), que, em toda a intervenção desrealizante do cineasta britânico, são quase tão eficazes quanto o distanciamento formal brechtiano, do que nas ruas e vielas da Roma do pós-guerra.

Por tudo isto, dir-te-ia que se o cinema, como tudo o resto, tem uma função social garantida e louvável, tem-na apenas e só quando essa função entra em comunhão profunda com todos os elementos estéticos. Não se trata de uma subvalorização dessa componente social. É apenas a lembrança de que não existe matéria sem forma. E que a auto-anulação (outro termo para objectividade, quer se fale de cinema ou de jornalismo) de si mesmo presente em parte da obra de Roberto Rosselini nada tem de benéfico. Todos conseguimos construir castelos de areia; todos temos, no entanto, de saber moldar as torres de vigia de acordo com os nossos horizontes. A função social do Cinema é, então, a de mostrar que o seu meio serve, simultaneamente, a expressão pessoal e a intervenção global. É, em suma, essa a quimera proposta pelos gémeos franceses de Os Sonhadores: um meio de conhecimento do mundo que, através da revisão contínua, permitia o conhecimento de outros (quem os fez) e, logo, eliminava a deslocação física e temporal que não estivesse já de si presente nas obras vistas. Negação da Verdade? Pois bem, a Verdade não existe, existe apenas a verdade. E um filme conseguir impor o seu ponto de vista social transcende o cinema e o Cinema: torna-o testemunha do seu tempo, da mesma maneira que as peças de Molière o são do dele. Não por acaso, à maneira de Rashomon, muitas vezes, em tribunal, as testemunhas de um processo vêem os acontecimentos de forma diferente...

Cumprimentos,
Miguel Domingues

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sábado, maio 13, 2006

Jeu de Massacre - 1ª Edição de Colecionador

Escrevo os meus textos no Word, e posteriormente recorto-os e colo-os para o Blogger, publicando-os de seguida. Pois bem, hoje à tarde o servidor falhou-me, fechando a jenela compulsivamente depois de ter colado quase tudo na página de criação de textos. Salvou-se a conclusão. Pois bem, falta-me o tempo e a vontade de re-escrever tudo, pelo menos de momento. Aqui fica, então, a conclusão. Poderia ter sido um belo texto. A colecionar, pois, de preferência, será uma edição única. Ah, e não quero que me lembrem que podia ter guardado o texto (para me massacrar com isso, já basto eu!).

E aqui Lawrence da Arábia é a Vida: a forma como o nosso posicionamento em relação ao mundo acaba por ser mudada quando vamos mais fundo em nós próprios. No tratamento desta questão, também é difícil não ficar estarrecidos com a objectividade posta na descrição deste conflito.

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sexta-feira, maio 12, 2006

Intereferências Musicais - II


Numa altura em que, em Portugal, existe já uma “brigada” destinada a caçar os incautos que ainda extraíam música ilegalmente da Internet, importa referir que se a lógica da defesa dos interesses comerciais das editoras é inatingível, o mesmo já não se passa com os músicos que, apostados no que se chama a “propriedade intelectual”, condenam o download ilícito.

À partida, as editoras seriam estruturas de difusão e edição dos conteúdos elaborados pelos artistas. Contudo, no que à música diz respeito, estas multinacionais, nas suas divisões de distribuição, transporte, marketing e, naturalmente, publicação, renegam os dividendos financeiros devidos aos artistas a uma minúscula parcela do preço final dos cds. Em contrapartida, a difusão, mesmo que gratuita, do trabalho de músicos através da Internet permite um maior conhecimento do mesmo por parte do público, o que redunda num maior público potencial nos concertos, a verdadeira fonte de fonte de rendimentos dos interpretes. Uma cruzada contra os downloads ilegais como a que foi perpetrada, há alguns anos, pelos Metallica, parece então, um tiro no pé, pelo menos do ponto de vista da rentabilidade dos projectos criativos.

Importa, então, perguntar: será que o que os artistas já publicados temem somente uma concorrência livre e menos dependente da filtragem e suporte das editoras?

(texto publicado em simultâneo no WWW.ABATALHADAVIDA.BLOGSPOT.COM. Passem por lá, que vamos actualizando. Obrigado.)

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segunda-feira, maio 08, 2006

Meio Sem Mensagem

A Palma de Ouro, entregue pela segunda vez no Festival de Cannes aos irmãos Dardenne por este A Criança, ao que tudo indica como compromisso do júri face aos filmes que o dividiam, Broken Flowers de Jim Jarmusch e Caché de Michael Haneke, só prejudica os cineastas belgas. Por um lado, eleva-os ao nível de cineastas superiores qualitativamente e com mais obra feita (Shohei Imamura e Emir Kusturica – curiosamente, o presidente do júri da edição de 2005 – para dar apenas dois exemplos). Pior do que tudo, dá ainda a Palma de Ouro a um filme menor, que não se pode valer do efeito de novidade que perpassava Rosetta, filme agraciado com o prémio em 1999.
Se o prémio foi dado a um filme menor, foi-o porque o realismo despojado e seco de Pierre e Jean-Luc Dardenne esbarra na ausência de perspectiva. A história de um jovem, malandro de profissão, que tenta vender o filho recém-nascido, perde-se na enumeração básica das tropelias do rapaz. Na única subversão do esperado, a criança do título não é o bebé vendido, mas Jérémie, o pai da criança. Será isso o suficiente para dar um olhar sobre assuntos complexos como a delinquência juvenil ou o tráfico de crianças? Compare-se então esta obra com Os Mutantes de Teresa Vilaverde: também aí o social não está à frente do espectador, embora sirva de sustento narrativo. Mas o meio opera sobre as personagens e sobre o assunto, e sublinha os seus sentimentos ao tornar a raiva uma questão de levitação. A Criança? Um simples caso de meio sem mensagem, com peças de xadrez a servir de pessoas.

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Inegável (até nem precisa de fotografia)

Não há Garbo!
Não há Dietrich!
Só há Scarlett Johansson!

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