O Autor: Nascimento da Política dos Autores, Práticas Críticas e Influências Geracionais pt.2
2. A Formação
Referir alguns dos nomes que elaboraram esta teoria é nomear alguns dos nomes fundamentais do cinema francês nos últimos quarenta anos.
O mais importante nome, a nível de produção teórica, é François Truffaut. Nascido em Paris em 1932, teve uma infância problemática, que o fez deixar a escola aos 14 anos. Construiu a sua cinéfilia ao ver mais de dois mil filmes na sua adolescência, a maior parte entrando nos cinemas sem pagar, através das casas de banho ou das saídas de emergência, e frequentando ciné-clubes. Encontrou o pai que sempre procurou em André Bazin (co-fundador e editor durante vários anos), que o levou a escrever para a Cahiers du Cinéma em 1953. Em 1959, iniciou uma bem-sucedida carreira como cineasta, com Os 400 Golpes, e atingiu o seu zénite criativo com Jules e Jim (1963). Violento e inovador no seu estilo de crítica, Truffaut foi acusado de não arriscar quando se tornou produtor dos seus filmes, e obras como As Duas Inglesas e o Continente e O Último Metro (1971 e 1980, respectivamente) são consideradas algo académicos. Faleceu em Outubro de 1984, com 52 anos, vítima de um tumor cerebral.
Primeiro aliado, depois inimigo de Truffaut, Jean-Luc Godard foi tão influente como aquele enquanto crítico, mais o seu foco era não tanto críticas e artigos sobre o panorama francês, mas antes longos e aprofundados textos teóricos. Nascido em 1930, Godard foi criado na Suíça e estudou etnologia na Sorbonne, em Paris. Escreveu na Cahiers du Cinéma após se ter formado, e estrou-se no cinema com O Acossado (1960), a que se seguiram obras como Une femme est une femme (1961), Viver a Sua Vida (1963) e Band à Part (1964). A sua carreira caiu nos anos 70 e 80, apenas para regressar nos anos 90 com, por exemplo, JLG por JLG (1994). Com um estilo fragmentado e auto-reflexivo, permanece um dos mais importantes nomes no que toca à reflexão sobre a importância e o estatuto da imagem nos dias que correm.
Eric Rohmer foi sempre o mais velho elemento desta formação e é um dos mais idosos cineastas ainda em actividade, com 85 anos. Sucessor de André Bazin como editor da supra-citada publicação, escreveu um influente mas problemático ensaio, Le Gout de la Beauté, onde alguns vêem reminiscências de racismo na sua definição de beleza cinematográfica. Enquanto cineasta, o seu estilo é enganadoramente simples, e centra-se em pessoas cuja auto-análise entra frequentemente em contradição com o seu comportamento. De elevado teor literário e filosófico, agrupa frequentemente os seus filmes em ciclos, como os Contos das Quatro Estações e Comédias e Provérbios. A sua última obra foi o muito bem sucedido Agente Triplo (2003).
Finalmente, Jacques Rivette nasceu em 1928 e entrou na Cahiers du Cinéma em 1953. Não particularmente relembrado como crítico, realizou o seu primeiro filme, Paris Nous Appartient em 1960, e rapidamente foi destacada a sua experimentação formal, em fitas como La Religieuse(1965) e, mais recentemente, Alto Baixo Frágil (1994). Permanece, pelo menos em Portugal, um cineasta algo ignorado, ainda que os seus dois últimos filmes, Va Savoir (2000) e Histoire de Marie et Julien (2004), tenham estreado em devido tempo.
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