Achas para a fogueira em que se transformou a Cinemateca Portuguesa
1
João Bénard da Costa está para a Cinemateca Portuguesa como Abraham Lincoln para o Partido Democrata norte-americano: é o mito fundador, a ideologia vigente. Renegar uma ideologia resulta sempre numa perda de identidade, numa descaracterização que pode resultar, inclusivamente, no definhamento das instituições. Vejam como a direita portuguesa nunca renega, pelo menos abertamente, o salazarismo.
João Bénard da Costa está para a Cinemateca Portuguesa como Abraham Lincoln para o Partido Democrata norte-americano: é o mito fundador, a ideologia vigente. Renegar uma ideologia resulta sempre numa perda de identidade, numa descaracterização que pode resultar, inclusivamente, no definhamento das instituições. Vejam como a direita portuguesa nunca renega, pelo menos abertamente, o salazarismo.
2
A questão que se põe não é tanto o proverbial problema da sucessão à altura. José Manuel Costa ou José de Matos-Cruz seriam nomes apropriados. A questão é saber se esses ou outros nomes competentes estariam dispostos a suceder à “velha raposa”.
A questão que se põe não é tanto o proverbial problema da sucessão à altura. José Manuel Costa ou José de Matos-Cruz seriam nomes apropriados. A questão é saber se esses ou outros nomes competentes estariam dispostos a suceder à “velha raposa”.
3
Num país como o nosso, em que o número de abutres partidários suplanta o número de cargos feitos à medida para os apaziguar, importa saber se os motivos especificamente culturais seriam mais importantes que os motivos políticos. Basta lembrar que, cá no burgo, o cargo de director da Biblioteca Nacional e a posição equivalente na Torre do Tombo são cargos de “confiança política”.
Num país como o nosso, em que o número de abutres partidários suplanta o número de cargos feitos à medida para os apaziguar, importa saber se os motivos especificamente culturais seriam mais importantes que os motivos políticos. Basta lembrar que, cá no burgo, o cargo de director da Biblioteca Nacional e a posição equivalente na Torre do Tombo são cargos de “confiança política”.
4
Muitos, no momento actual, se apressam a afirmar que o país não pode viver de “happy few”. Curiosamente, são os mesmo que defendem as elites, a competência e a iniciativa privada, características inegáveis e indissociáveis de Bénard da Costa. Com a mesma dose de hipocrisia, nunca põem a hipótese de mudarem apenas as moscas a sobrevoar a coutada, sem qualquer resolução de eventuais problemas que possam existir.
Muitos, no momento actual, se apressam a afirmar que o país não pode viver de “happy few”. Curiosamente, são os mesmo que defendem as elites, a competência e a iniciativa privada, características inegáveis e indissociáveis de Bénard da Costa. Com a mesma dose de hipocrisia, nunca põem a hipótese de mudarem apenas as moscas a sobrevoar a coutada, sem qualquer resolução de eventuais problemas que possam existir.
5
Se a Ministra da Cultura, a ultra-competentíssima Isabel Pires de Lima, queria demitir João Bénard da Costa, então deveria ter mantido a decisão até que a pressão se tornasse impossível de suster ou, no mínimo, até que a convencessem do erro que estaria a cometer. Perante tamanha rapidez na mudança de posição, o que sobressai é a mesma cobardia e a mesma atrapalhação evidenciadas no caso da colecção Berardo.
6
Não é a partir estátuas que se constroem memórias. Varrer o Dr. Bénard da Cinemateca devido à sua idade, sem provas evidentes de que esta tornou a sua função impraticável, seria o mesmo que varrer Eusébio da História do desporto português por este ter nascido em Moçambique. É pena que ninguém se tenha lembrado de impor um limite de tempo à frente do cargo; idade pessoal e idade institucional são duas coisas muito diferentes.
Não é a partir estátuas que se constroem memórias. Varrer o Dr. Bénard da Cinemateca devido à sua idade, sem provas evidentes de que esta tornou a sua função impraticável, seria o mesmo que varrer Eusébio da História do desporto português por este ter nascido em Moçambique. É pena que ninguém se tenha lembrado de impor um limite de tempo à frente do cargo; idade pessoal e idade institucional são duas coisas muito diferentes.
7
A questão da direcção da Cinemateca é o destruir da maior unanimidade cultural nacional. Basta comparar a constância qualitativa e comercial do Museu do Cinema com a da que deveria ser a instituição cimeira das artes em Portugal, o Teatro Nacional D. Maria II.
A questão da direcção da Cinemateca é o destruir da maior unanimidade cultural nacional. Basta comparar a constância qualitativa e comercial do Museu do Cinema com a da que deveria ser a instituição cimeira das artes em Portugal, o Teatro Nacional D. Maria II.
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